Na pior em Paris e Londres (1933) - Nota 4,3 Skoob
No final do anos 20, decidido a tornar-se escritor, o jovem Eric Arthur
Blair resolveu viver uma experiência pioneira e radical: submeter-se à
pobreza extrema - e depois narrá-la. Em 1928, instalou-se em Paris com
algumas economias e começou a dar aulas de inglês - mas em pouco tempo
perdeu os alunos e foi roubado. Sem dinheiro, passou fome, penhorou as
próprias roupas, trabalhou em restaurantes sórdidos e por fim partiu
para a Inglaterra. Enquanto esperava por um emprego incerto, radicalizou
ainda mais sua experiência convivendo intensamente com os mendigos de
Londres, perambulando de albergue em albergue, atrás de dormida, comida e
tabaco.
É essa vivência miserável que Orwell relata com humor e indignação, distanciamento e participação. Recusado por várias editoras inglesas, o livro só foi publicado em 1933, trazendo, pela primeira vez, o pseudônimo que consagraria um dos maiores escritores do século XX. Com posfácio de Sérgio Augusto.
É essa vivência miserável que Orwell relata com humor e indignação, distanciamento e participação. Recusado por várias editoras inglesas, o livro só foi publicado em 1933, trazendo, pela primeira vez, o pseudônimo que consagraria um dos maiores escritores do século XX. Com posfácio de Sérgio Augusto.
O Caminho para Wigan Pier (1937) - Nota 4,2 Skoob
"No sistema capitalista, para que a Inglaterra possa viver em relativo
conforto, 100 milhões de indianos têm que viver à beira da inanição - um
estado de coisas perverso, mas você consente com tudo isso cada vez que
entra num táxi ou come morangos com creme."
É dessa forma, unindo a
pegada do inconformista com a mordacidade do literato, que George Orwell
pinta as relações entre a metrópole imperial britânica e suas colônias
na Ásia, na segunda parte de O caminho para Wigan Pier, publicado
originalmente em 1937. É na primeira parte, porém, que ele dá conta, com
seu costumeiro estilo límpido ("de vidraça", como ele dizia), direto e
vigoroso, de sua visita às áreas de mineração de carvão em Lancashire e
Yorkshire, no norte da ilha britânica. A pobreza e o sofrimento atroz
dos mineiros são retratados ali com um grafismo brutal, desde as
condições esquálidas de moradia ao medo das frequentes ondas de
desemprego que assolavam a região, colocando em risco extremo a
sobrevivência física dos trabalhadores e de suas famílias.
Neste livro, vemos o futuro e celebrado autor de clássicos universais já em plena florescência de seu projeto literário e existencial, que o levou a abandonar os privilégios de sua classe, a execrar qualquer forma de imperialismo e a mergulhar de corpo e alma na vida dos trabalhadores pobres e dos excluídos sociais.
Neste livro, vemos o futuro e celebrado autor de clássicos universais já em plena florescência de seu projeto literário e existencial, que o levou a abandonar os privilégios de sua classe, a execrar qualquer forma de imperialismo e a mergulhar de corpo e alma na vida dos trabalhadores pobres e dos excluídos sociais.
Lutando na Espanha (1938) - Nota 4,3
"Eu tinha chegado mais ou menos por acaso na única comunidade na Europa
Ocidental em que a consciência política e a descrença no capitalismo
eram mais normais que seus opostos... Em teoria havia perfeita
igualdade, e mesmo a prática não estava distante disso. A divisão normal de classe da sociedade
tinha desaparecido ao ponto em que é impensável para a atmosfera
mesquinha da Inglaterra... Estávamos em uma comunidade onde a esperança
era mais natural do que a apatia ou o cinismo, onde a palavra ‘camarada’
significava camaradagem e não, como em muitos países, uma forma de
chamar a atenção de alguém. Respirávamos o ar da igualdade... Aquilo que
atrai os homens comuns para o socialismo e os faz querer arriscar suas
vidas por ele, a ‘mística’ do socialismo, é a ideia de igualdade; para a
vasta maioria dos povos, ou socialismo significa uma sociedade sem
classes ou ele não significa nada."
George Orwell escreveu Lutando na
Espanha baseando-se em experiências pessoais na guerra civil que foi o
prelúdio da batalha final contra o fascismo na década de 1940. O livro
só pode ser considerado ficção do ponto de vista técnico. No mais,
relata fatos. Orwell alistou-se como voluntário nas tropas republicanas e
foi ferido no pescoço. Orwell se definiu como membro da pequena média burguesia. Em outras
palavras, sua família deu-lhe uma educação, injetou-lhe preconceitos de
classe que não correspondiam a seus meios reais de subsistência. Estudou
em Eton, que é a escola da elite da
Grã-Bretanha. Serviu na Polícia Real na Birmânia. Foi lá que descobriu a
mentira e a espoliação em que se assentava o império britânico.
Tornou-se socialista. Quando estourou a revolta fascista de Franco, ele seguiu
para a Espanha a fim de defender com armas a causa republicana.
Em Lutando na Espanha, Orwell vê a guerra do
ponto de vista individual, as misérias, frustrações e horrores
experimentados pelo soldado comum, não importa a nobreza da causa que
esteja defendendo. Ele humaniza a guerra a fim de revelar-lhe a
desumanidade. É um livro simples, modesto e direto, mas só em aparência.
Não contém abstrações ideológicas sobre a condição humana. Fica no
terra-a-terra de uma experiência individual diante do perigo concreto da
morte, que não toma partido ideológico. Tanto melhor. Quando a guerra
civil for apenas uma nota ao pé de página na História, a evocação de
Orwell será reconhecida pelos nossos pósteros como a memória viva
daqueles que pereceram lutando pela justiça e pela liberdade,
transcendendo o meramente político e o meramente propagandístico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário