O nome de batismo era Eric Arthur Blair e ele nasceu em Motihari, Bengala, em 25 de Junho de 1903. Seu pai, Richard Walmsley, nascera em 1857 em Milborne St. Andrew, Dorset, onde o seu pai era vigário. O pai de Orwell trabalhava no Departamento de Ópio do Serviço Civil Indiano. Sua mãe, Ida Mabel Limouzin nasceu em 1875, em Penge, Surrey, mas sua família tinha uma longa ligação com a Birmânia.
Ida Blair e o pequeno Eric. |
Os pais de Orwell se casaram numa igreja chamada São João do Deserto em 15 de junho de 1897. A primeira
filha deles, Marjorie, irmã mais velha de Orwell, nasceu em Gaya,
Bengala, em 21 de abril de 1898. Ida Blair voltou com seus dois filhos
para viver na inglaterra em Henley-on-Thames, em 1904. Em 1907, Richard
passou 3 meses de licença em Henley. Dia 6 de abril de 1908 nasceu a
irmã mais nova de Orwell, Avril.
Depois foi para o internato de St. Cyprian's, uma escola preparatória particular em Eastbourne. Seu ensaio Tamanhas eram as alegrias baseia-se nas experiências nessa escola, mas ela o ensinou bem o suficiente para entrar em Eton como bolsista do rei em 1917.
Uma
carta que só muito recentemente veio à luz faz um relato de sua vida a
partir de então do ponto de vista de Orwell. Ele fora convidado por
Richard Usbourne , editor da The Strand, um periódico literário
mensal, para colaborar com a revista contando um pouco de sua vida. Como
o último parágrafo indica, Orwell estava muito ocupado para colaborar -
estava escrevendo 1984 -, mas, apesar disso, deu-se ao trabalho de
responder Usbourne. A carta foi escrita em Barnhill, ilha de Jura, em 26 de agosto de 1947.
Caro, sr Usborne
Muito obrigado por sua carta do dia 22. Vou responder às suas perguntas
da melhor maneira possível. Nasci em 1903 e estudei em Eton, onde tive
uma bolsa de estudos. Meu pai era um funcionário público na Índia e
minha mãe também vinha de uma família anglo-indiana, com vínculos
especialmente com a Birmânia. Depois de sair da escola, servi cinco anos
na Polícia Imperial da Birmânia, mas como o trabalho era totalmente
inadequado para mim, pedi demissão quando vim de licença para casa, em
1927. Eu queria ser escritor e passei a maior parte dos dois anos
seguintes em Paris, vivendo de minhas economias e escrevendo romances
que ninguém quis publicar e que posteriormente destruí. Quando meu
dinheiro acabou, trabalhei por um tempo como lavador de pratos, depois
voltei para Inglaterra e tive uma série de empregos mal remunerados
geralmente como professor, com intervalos de desemprego e pobreza
extrema. (Era o período da depressão econômica.)
Quase todos os incidentes descritos em Na pior realmente aconteceram, mas em momentos diferentes, e eu os entreteci de modo a construir uma história contínua. Trabalhei de fato numa livraria por cerca de um ano em 1934-35, mas só incluí isso em A flor da Inglaterra para compor um pano de fundo. O livro não é, creio eu, autobiográfico, e eu nunca trabalhei em uma agência de publicidade. Em geral, meus livros são menos autobiográficos do que as pessoas supõem. Há pedaços de autobiografia em O caminho para Wigan Pier e, é claro em Homenagem a Catalunha, que é pura reportagem. Por falar nisso, A flor da Inglaterra é um dos vários livros que não dou importância e que suprimi.
Quanto à política, interessei-me pelo assunto apenas de modo intermitente até por volta de 1935, mas posso dizer que sempre fui mais ou menos de "esquerda". Em O caminho para Wigan Pier,
tentei pela primeira vez discutir minhas ideias. Eu achava, e ainda acho, que há deficiências enormes em toda concepção do socialismo, e ainda me perguntava se haveria outra saída. Depois de dar uma boa olhada na pior face do industrialismo britânico, ou seja, nas áreas de mineração, cheguei à conclusão de que é um dever trabalhar pelo socialismo, mesmo que não seja emocionalmente atraído por ele, pois a continuidade da sistema atual é simplesmente intolerável, e nenhuma solução exceto algum tipo de coletivismo, é viável, porque é isso que a massa do povo quer. Mais ou menos na mesma época, fui contaminado por um horror ao totalitarismo, que na verdade eu já tinha sob a forma de hostilidade contra a Igreja Católica. Lutei por seis meses (1936-7) na Espanha, ao lado do governo, e tive a infelicidade de me envolver na luta interna do lado do governo, o que me deixou com a convicção de que não há muito que escolher entre comunismo e fascismo, embora por várias razões eu escolhesse o comunismo, se não houvesse outra opção em aberto. Estive vagamente associado aos trotskistas e anarquistas, e mais estreitamente com a ala esquerda do Partido Trabalhista. Fui editor literário do Tribune, então o jornal de Bevan, durante cerca de um ano e meio (1943-5), e escrevi para ele por um período maior do que isso. Mas nunca pertenci a um partido político, e acredito que até mesmo politicamente sou mais valioso se registrar o que acredito ser verdade e me recusar a seguir uma linha partidária.
No início do ano passado, decidi tirar umas férias, pois havia dois anos vinha escrevendo quatro artigos por semana. Passei seis meses na ilha de Jura, durante os quais não fiz nada, depois voltei para Londres e trabalhei em jornalismo como de costume durante o inverno. Depois voltei para Jura e comecei um romance que espero terminar na primavera de 1948. Estou tentando não fazer mais nada enquanto trabalho nele. Muito de vez em quando, escrevo resenhas de livros a New Yorker. Espero passar o inverno em Jura este ano, em parte porque nunca consigo manter a continuidade do trabalho em Londres, em parte porque acho que será um pouco mais fácil me manter aquecido aqui. O clima não é frio, e alimentos e combustíveis são mais fáceis de obter. Tenho uma casa muito confortável aqui, embora seja um lugar afastado. Minha irmã [Avril] cuida da casa para mim. Sou viúvo, com um filho de pouco mais de 3 anos.
Quase todos os incidentes descritos em Na pior realmente aconteceram, mas em momentos diferentes, e eu os entreteci de modo a construir uma história contínua. Trabalhei de fato numa livraria por cerca de um ano em 1934-35, mas só incluí isso em A flor da Inglaterra para compor um pano de fundo. O livro não é, creio eu, autobiográfico, e eu nunca trabalhei em uma agência de publicidade. Em geral, meus livros são menos autobiográficos do que as pessoas supõem. Há pedaços de autobiografia em O caminho para Wigan Pier e, é claro em Homenagem a Catalunha, que é pura reportagem. Por falar nisso, A flor da Inglaterra é um dos vários livros que não dou importância e que suprimi.
Quanto à política, interessei-me pelo assunto apenas de modo intermitente até por volta de 1935, mas posso dizer que sempre fui mais ou menos de "esquerda". Em O caminho para Wigan Pier,
tentei pela primeira vez discutir minhas ideias. Eu achava, e ainda acho, que há deficiências enormes em toda concepção do socialismo, e ainda me perguntava se haveria outra saída. Depois de dar uma boa olhada na pior face do industrialismo britânico, ou seja, nas áreas de mineração, cheguei à conclusão de que é um dever trabalhar pelo socialismo, mesmo que não seja emocionalmente atraído por ele, pois a continuidade da sistema atual é simplesmente intolerável, e nenhuma solução exceto algum tipo de coletivismo, é viável, porque é isso que a massa do povo quer. Mais ou menos na mesma época, fui contaminado por um horror ao totalitarismo, que na verdade eu já tinha sob a forma de hostilidade contra a Igreja Católica. Lutei por seis meses (1936-7) na Espanha, ao lado do governo, e tive a infelicidade de me envolver na luta interna do lado do governo, o que me deixou com a convicção de que não há muito que escolher entre comunismo e fascismo, embora por várias razões eu escolhesse o comunismo, se não houvesse outra opção em aberto. Estive vagamente associado aos trotskistas e anarquistas, e mais estreitamente com a ala esquerda do Partido Trabalhista. Fui editor literário do Tribune, então o jornal de Bevan, durante cerca de um ano e meio (1943-5), e escrevi para ele por um período maior do que isso. Mas nunca pertenci a um partido político, e acredito que até mesmo politicamente sou mais valioso se registrar o que acredito ser verdade e me recusar a seguir uma linha partidária.
No início do ano passado, decidi tirar umas férias, pois havia dois anos vinha escrevendo quatro artigos por semana. Passei seis meses na ilha de Jura, durante os quais não fiz nada, depois voltei para Londres e trabalhei em jornalismo como de costume durante o inverno. Depois voltei para Jura e comecei um romance que espero terminar na primavera de 1948. Estou tentando não fazer mais nada enquanto trabalho nele. Muito de vez em quando, escrevo resenhas de livros a New Yorker. Espero passar o inverno em Jura este ano, em parte porque nunca consigo manter a continuidade do trabalho em Londres, em parte porque acho que será um pouco mais fácil me manter aquecido aqui. O clima não é frio, e alimentos e combustíveis são mais fáceis de obter. Tenho uma casa muito confortável aqui, embora seja um lugar afastado. Minha irmã [Avril] cuida da casa para mim. Sou viúvo, com um filho de pouco mais de 3 anos.
Espero que estas notas ajudem. Infelizmente não posso escrever nada para a Strand
no momento, porque, como já disse, estou tentando não me envolver com
trabalho externo. O correio passa somente duas vezes por semana aqui e
esta carta não sairá antes do dia 30, por isso vou enviá-la a Sussex.
Atenciosamente
George Orwell
George Orwell
Foto colorida artificialmente. |
Referência: vida em cartas, Uma - George Orwell
Nenhum comentário:
Postar um comentário